afinal, o que *não* afeta o Grêmio?
"Afinal, como isso afeta o Grêmio?" deve ser levado a sério.
I.
Vez ou outra tenho conversas com amigos onde levo efemérides às suas últimas consequências. Não é pra ser chato, mas sim, elas me causam uma dúvida genuína que me carrega para (muito) além do ponto onde percebo que talvez levei algo a sério demais. Numa dessas, me lançam a consagrada frase:
“Tá, mas e como isso afeta o Grêmio?”
Me pus a pensar.
II.
A primeira vez que este questionamento foi levantado foi após a morte do príncipe Philip, por um canal no Youtube chamado “loucos pelo grêmio". Primeira vez pois virou uma série, e eventualmente um meme a ser repetido ad nauseam.
O vídeo conclui com a seguinte frase: “Não tem nada a ver a morte do príncipe…”. E realmente não tinha; até o exato momento que o vídeo foi lançado e começou a tomar proporções. A morte do príncipe Philip em nada afetava o Grêmio, mas agora afeta. Perdoem a aparente tautologia — não quero fazê-la levianamente, quero trazer atenção a algo específico posto nela — mas tudo que afeta o Grêmio, afeta o Grêmio. A pergunta posta tão singelamente segue sendo a mesma: O problema-chave que me interessa não é o fato Grêmio ser afetado, o problema é como.
III.
Futebol, da tríade indiscutível futebol-política-religião; “Futebol, política, e religião não se discutem”, como era formulada. Prefiro esta outra, presente no Xwitter de Antônio Tabet. Saber se ele kibou mais essa é impossível, mas assim foi posta:
Brasil, o país onde política é futebol, futebol é religião e religião é política.
Política é Futebol.
Futebol é Religião.
Religião é Política.
E o que podemos dizer sobre isso? “Sim, mas...” Aqui, temos um contato ao “ar livre” com a noção que as coisas, por mais indiscutíveis que elas sejam, se misturam-hibridizam. Não entendi este movimento até que tive minha primeira aula sobre Bruno Latour, onde nela mesmo já coloquei pra mim mesmo o altíssimo objetivo de me tornar o maior especialista em Bruno Latour do meu bairro. Ler este homem é um privilégio imenso, cujas recompensas vêm em forma de pedradas intelectuais massivas. Vamos pegar um trecho da introdução permanentemente potente de “Jamais Fomos Modernos” (Latour 1994), só para começar:
"[...] Um mesmo fio conecta a mais esotérica das ciências e a mais baixa política, o céu mais longínquo e uma certa usina no subúrbio de Lyon, o perigo mais global e as próximas eleições ou o próximo conselho administrativo. As proporções, as questões, as durações, os atores não são comparáveis e, no entanto, estão todos envolvidos na mesma história." (Latour, 1994, p. 7, ênfase minha)
Torçamos mais um pouco:
Futebol é Política.
Religião é Futebol.
Política é Religião.
Futebol é evidentemente político. Não enunciarei demais as coisas, mas pensemos: Copa do Mundo de 2022. Qatar. Quanto custou para ser realizado ali? Quais foram as discussões levantadas a respeito das condições de trabalho lá? Seguimos, mas não muito. Religião ser Futebol é uma questão que requer um certo tato que neste momento não estou apto a ter. Política ser Religião? Esta é fácil demais.

IV.
Três seções deblateradoras depois, volto pra questão principal. Afinal, o que *não* afeta o Grêmio? Se nosso objetivo é traçar uma corrente de causa e efeito entre todas as coisas, a resposta é simples: nada deixa de afetar o Grêmio de uma forma ou de outra. Afinal, estamos falando de uma economia globalizada, vivendo num mundo retalhado pelas mudanças climáticas, não há um beyond the environment.
No momento em que escrevo isso, o Rio Grande do Sul está efetivamente sendo destruído pelas chuvas e alagamentos, outro tópico sensível que me bota numa posição perigosa: Há a obviedade de dizer que o aquecimento global, portanto, afeta o Grêmio desta forma. E afeta muito. Mas leiam carinhosamente, não procuro fazer graça da situação, e sim fazer coro com os “loucos pelo grêmio” neste momento onde mais precisam de nossa ajuda:
A energia acaba no meio do vídeo. Pergunto de novo: afinal, o que não afeta o Grêmio? Tudo afeta o Grêmio. Tudo nos afeta. Entendamos como. Em outros momentos, pretendo voltar ao assunto.
Neste meio tempo, por favor, busquem ajudar. Fica minha sugestão: Apoio e financiamento de ações coletivas de combate aos efeitos das enchentes no RS pelo Apoia.se